Greve 1917- Porto Alegre |
Eia, rebelde, para a rua,
Formemos todos nós legião!
Nossa alma cheia d’ódio estua,
Ruge violenta como um leão!
Chega o momento da vingança,
Basta de fome e de sofrer!
Com a submição nada se alcança,
Tudo se alcança a combater!
Chega o momento da vindicta,
Vem teu direito reclamar!
Todo esse povo que se agita,
Todo é de irmãos, vai batalhar!
Vamos! A luta que te invida
não é de iguais, não, contra-iguais;
não é a luta fraticida,
Que faz dos homens animais;
Não é a luta repelente
Que entre si fazem as nações,
Em benefício unicamente
Dos financeiros tubarões...
A nossa luta é santa e nobre,
E tão sagrada como o ideal,
É o doloroso afã do pobre
Contra a opressão do Capital.
Todos seremos bons soldados,
Sem generais a dirigir;
Todos seremos compensados,
Quando a vitória nos sorrir!
Não são riquezas que queremos,
Que o ouro é o veneno mais atroz;
As honrarias desprezamos,
Que não há deuses entre nós.
A todos cabe igual direito,
Somos irmãos de igual valor;
Pois, a uma voz negamos preito
Ao que tornar-se ostentador.
Vamos! A luta que fascina,
Que para a rua nos atrai
Não é a vil guerra assassina
Que a toda parte lança um ai!
Escuta bem! Não ouves perto,
Do prelio, o estrepido viril?
Não vês que sopra do deserto
Um furacão torvo e febril?
Pois é coitada espécie humana
Que ora desperta e, com altivez,
Se empunha numa raiva insana,
Contra o inimigo, o vil burguês;
Pois é o simun da alta Justiça
Que vem varrer o mundo, enfim,
Das perversões e da injustiça
Que o fazem tão cruel assim...
Eia, rebelde, se tens fome,
Se estás cansado a sofrer;
Se a tirania te consome
As alegrias do viver,
Ergue-te e vem, torna-te um bravo,
Pelo ideal luta também.
Enquanto fores um escravo,
Somente és digno de desdém!
Raymundo Reis
*Publicado no antigo jornal operário “O Trabalhador”, esse poema foi publicado também com o título de A Canto dos Rebeldes.
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