O Desprendimento


Não escrevas, se és Gênio, por vaidade,
Faze tudo o que deves por dever.
Somente a alma de apóstolo persuade
E obriga as almas débeis a poder.

Que o teu verbo, se és deus, ensine e brade
Sacudindo os que morrem sem viver.
Só assim hás de ter sinceridade
Para pensar e amor para escrever

Não te lembres da glória, combatendo!
Ela virá quando tiver de vir,
No teu dia mais fúnebre e tremendo...

Ela cresce, entreoculta, em teu porvir!
Sê digno de esperá-la, assim, sofrendo,
Sem desejos sequer de a conseguir.

José Oiticica

O Sol da Nova Idéia


As imagens dos celicos devassos
Em negro pó desfeitas o ar semeiam;
Levadas para o vento revolteiam
As crenças divinas em estilhaços.

Os deuses já morreram nos espaços
Os altivos e os templos bamboleiam;
Os tronos d’ouro estalavam ou baqueiam
e fogem dos reis trêmulos dos paços.

Dos credos sem sentido as densas brumas
Se dissolvem na noite, quais espumas
Na areia da praia que reluz!

O mundo velho dorme em longa treva
Enquanto ao longe vejo que se eleva
O Sol da nova idéia a branca luz!


Teixeira Bastos

Publicado em “A Voz Operária”, Campinas, 05/10/1919

O construtor não deve temer ruínas


Caos! Terror! 
Dizem o patrão e o senhor
Quando a revolução de aproxima
Dizem que dali só sobrará ruinas...

A visão de mundo propagada pelo burguês
Não consegue ver além do capital e do lucro
Mas olho as construções e produtos...
O trabalhador fez isso tudo!
Poderá também fazê-los outra vez...

E pode fazer bem melhor!
Em uma sociedade liberta da ganância
Que se mova para a satisfação humana
De realizações e feitos, será muito maior

Vejo um povo moribundo, 
em um mundo de privações
Se eles se movimentarem, as coisas mudam...

Aos revolucionários ruínas não assustam
Porque sementes de um Novo Mundo 
Já carregam em seus corações


Luiz Aurélio
agosto-2011

Imagem:
http://marciosouzajunior.blogspot.com/2010/07/construtores-java.html

Dias atuais


Sentado no meu quarto,
me proponho a escrever um poema,
mas do que falar?
sobre os amores?
sobre as dores?
sobre as paranóias?
ou anedotas?
Vem a mente de repente,
um pensamento.
Que tal falar sobre o seu dia?
Meu dia?
isso me arrepia,
meu dia
é o mesmo de todos os dias,
acordo as 7 horas,
tenho que trabalhar,
apesar de não querer ,
sou obrigado,
a se rebaixar.
A minha vontade
se encontra com a minha liberdade,
preso a minha necessidade.
Não falarei do meu trabalho.
Outra vez uma reflexão.
Que tal falar sobre a minha diversão?
A minha diversão é a distração da televisão.
De repente, veio a minha mente,
uma lembrança.
Já sei,
Não falarei, apenas recordarei,
aquele mês,
A luta contra o patrão,
a nossa decisão,
De não trabalhar
e de protestar.
Isso nos fez acordar,
A nossa luta produziu a reação,
contra a exploração.
Como boas pessoas que são,
os sindicalistas proibiu a nossa ação,
dizendo que isso era autogestão,
isso é ilusão.
Respondemos então:
_Não vem dizer o que fazer,
Eu não vou te obedecer.
Não vou esperar, a sua boa vontade de nos ajudar.
Foi nítida a reação,
A polícia em ação.
A batalha foi perdida,
Mas a guerra será vencida.


Adriano José
http://movaut.ning.com/group/poesialibertaria/forum/topics/dias-atuais

Tropel noturno


A sombria mancha vermelho-cinza me arruína!
Carrego comigo 150 quilos de dores seculares,
No meio das quais se dissolvem todos os pares
Dos amantes que a multidão violentamente fulmina.

                                      Mais uma noite sozinho, preso em milhões de azares
                                      Corro para dentro de mim buscando algo humano.
                                      Só encontro destroços, pequenos fragmentos insulares,
                                   
Restos de alegria, a loucura dispersa num oceano.
Mas do tropel da desgraça que violentamente me assola,
Da vida que corre pelos trilhos metálicos da morte hedionda
Brota o Germinal, como disse muito bem o velho Zola!!!

                                   Somente agora que o sangue noturno entope minhas artérias,
                                   Vejo descer pelas ladeiras da resistência uma imensa bola,
                                   Que aumenta de tamanho tal qual um tropel de bactérias.

∗∗∗
E cria, no meio destas estradas funéreas
Uma onda gigantesca de muita vida,
Trazendo para si a potência perdida,
Fazendo de si imaginações aéreas.

                                  Da angústia dolorosa do corpo massacrado,
                                  Da solidão que me afugenta em delírio,
                                  Da morte que goza no martírio,
                                  Do sádico que se regozija ante o encarcerado,

Da dor solitária que destrói o homem atomizado,
Da mônada claustrofóbica que envolve o indivíduo
Há de reerguer-se em movimento o povo conspícuo,

                                Há de lutar a multidão de forma muito organizada.
                                Tal como um fósforo que pego-o e risco-o,
                                Também a vida será por todos nós revolucionada.


Lucas Maia
http://api.ning.com/files/UuLvypwfh0VOPAmoiCupZas8qvs7qjgmUdaPqN0YHP6xOlnCTqOdTzWD7uExzM2qxZ8pbp-8QlxvzuJMTKFdiI9X8aEx*VxA/livrinhoDoresntimas.pdf

Anarquia, Anarquia


Anarquia, Anarquia
Dama da Liberdade
Por ti se erguia
A bandeira da Igualdade

És a Justiça que não falha
Ouçai todo aquele que lavra
Aprende, trabalha e batalha
Pois a mim peço a palavra

Nossa história começa
Como todas que ouviste
A um passado distante regressa
Mas até hoje persiste

Era o Homem pois
Um simples animal
Mas dia antes e dia depois
Era assolado pelo Mal

Vivendo na caverna
Escondido o Homem era
Pois fora de sua casa terna
Habitava besta fera

Mas uma não bastava
Então duas la estavam
Onde uma ia, a outra acompanha
Nunca sós, juntas reinavam

Uma era o Medo
Que nunca se passa
Portanto todo dia logo cedo
Ao Homem saia a caça

Sua irmã a Ignorância
Junto a caminhar
Pois grande era sua ânsia
Do Homem atormentar

Pobre Homem, só a lutar
Enquanto o Mal rondava
Pobre Homem, incapaz de sonhar
Enquanto o Mal esperava

Vez ou outra ousava
De seu abrigo fugir
Mas tão logo voltava
Ao ver o mal surgir

Enfim um dia o homem achou
Um ovo sem mãe nem pai
À caverna o levou
Para ver o que dali sai

Não é que dali nasce
Uma Hidra de tres cabeças
E alimentada ela logo cresce
Maior que as duas bestas?

E a ambas sai a caça
O monstro adotado
Pois elas ele ultrapassa
Sorte do Homem amado

Quanta mentira, ora essa
Pois mil vezes pior a tal
Iludiu o Homem nessa
Que não entendeu o novo mal

As antigas bestas derrotadas
Uma nova emergia
Mais cruel que as derrubadas
Abominação que surgia


De joelhos o Homem colocou
Arrogante ela era
Como deus se coroou
Maldita besta fera!

As três cabeças a rir
Seus olhos a brilhar
Nunca o Homem sorrir
Enquanto a criatura reinar

Das Três a da Direita
Uma horda a formar
Com força ela ajeita
Para inimigos esmagar

Ó monstro cruel
Sob teu punho juntas uma nação
Ó monstro fiel
Com uma bandeira enganas a multidão!

Prometes Ordem
Sob tua vigilância
Mas com desordem
Revela tua arrogância!

Leviathan
Fera da Violência!
Leviathan
Que destrói a inocência!

Das Três a da Esquerda
Mentirosa dentre elas
Ilude a todos com perda
Mas definha tudo que relas

Fanatismo maldito
Blasfemias profere
Em nome do Divino dito
A seus iludidos ela fere

Pois Ilusão é o que revelará
Demiurgo cego e farsante
Quando a Sabedoria virá
Nos livrar da mentira cegante?

Samael
Fera que Mente!
Samael
Que destrói a Mente!

Das Três a do Meio
Fria e calculista
Ela não conhece freio
Que o Homem resista!

Ela conhece seus segredos
Ouro e Prata oferece
Ela conhece seus medos
Propriedade, eis sua prece!

Deus corrompido
Uns são, outros não
Por que vendes o esculpido
Enquanto outros vivem sem pão?

Mamon
Fera das Riquezas
Mamon
Malditas suas surprezas!

Ó pobre Homem
Quando enfim escaparás?
Ó pobre Homem
Quando enfim viverás?

Anarquia, Anarquia
Dama da Liberdade
Por ti se erguia
A bandeira da Igualdade


Anarkhos


Bandeira Negra


Bandeira Negra,
sua maior beleza
é ser uma anti-bandeira
no sentido nacional

              Representa nenhuma nação
              Pois é símbolo de união
              Com objetivo de luta
              Com objetivo de ação

Nacionalismo é um mal
Poderosos o colocaram
As fronteiras não nos separam
Nos separa a classe social

              De união repercuta uma voz
              Entre todos os produtores
              Gritando paz entre nós
              Gritando guerra aos senhores!

Trabalhadora e Trabalhador
Seja lá de onde for
Também é um dos nossos
Não travemos fratricidas combates
Que não haja guerra entre os povos
Que não haja paz entre as classes!

              Sob as coloridas bandeiras nacionais
              a humanidade agoniza
              Entre multidão de divisas,
              sofrimentos tão iguais!

Nos dividindo é a maneira
Que o inimigo se fortalece
Contra isso é preciso lutar
Levantemos bandeira negra
bandeira que se escurece
para que o ser humano possa brilhar

               Chega de tiranias!
               Escancaradas
               ou travestidas de democracia

Governo é só sofrimento e opressão
Para cima da população
Nesse mundo degradativo
Só os trabalhadores podem dar solução
Botando fora o político
Botando fora o patrão

               Se lançando ao combate
               Abolindo a propriedade
               dos meios de produção

Começar a organização da sociedade
Através do povo em união
Derrotar a ilusão de incapacidade
Sua infinita capacidade mostrarão

               Para uma verdadeira revolução
               Que leve para a libertação
               Não há outra maneira

Que o nosso ser seja fogueira
A queimar toda opressão
Levantemos bandeira negra
e gritemos autogestão


Luiz Aurélio