O Pedreiro

Cyrano Reis Rezende Jr.

Quando o inegável rumor dos tempos
Despertar em si, faça-se luz!
Hei de superar dificuldades e contratempos
Serei aceito, a razão me conduz.

Conduzido enfim a porta do templo
Temerário esboçarei um arrojo
Mas obedeço, ouço, contemplo
Do homem que há em mim me despojo.

Aos pés do altar dos sacrifícios
Provo que não serei um perjuro
Bebo da taça sagrada, é o início,
Passo agora a projetar meu futuro.

Viajo com meu guia sob tempestades
Superamos dificuldades e batalhas
Chega a calmaria... tranquilidade
Morreu o homem velho e suas tralhas.

O cristo

Pelo trilho apagado, onde teu passo leve
Em vão deixou no pó do teu caminho,
Tento seguir-te o rumo e transtornado, em breve,
Volto outra vez, sem fé, para meu lar, sozinho.

Porque minh'alma, ó Cristo, é ímpia, não se atreve
A ver na hóstia o teu corpo e o teu sangue no vinho
E quando ao te evocar a minha pena escreve
Que tu és Deus, a razão se insurge e eu te amesquinho.

E esplendes, na tua cruz, como um símbolo apenas,
Pois toda essa missão de amor que te ilumina
É o sonho humano - o terno ideal das nossas pernas...

E o teu grandioso exemplo, o teu fulgor intenso,
Como o sol por detráz das gazes de neblina,
Desmaia, sobre o altar, entre as nuvens de incenso.

José Oiticica

-Sonetos (1905-1911)