Viagem ao estranho mundo academicista

(um poema longo e tosco para o ambiente mais tosco de todos)

O jovem no ambiente escolar
sonha no vestibular passar
universidade poder estudar
Mas os que conseguem até lá chegar
dentro dela estranho cenário irão encontrar
no centro um imponente altar
em cima dele a estátua dourada de um doutor
diante da qual devem se ajoelhar,
se humilhar
e recitar cânticos de louvor

Os professores sendo ou não doutores
vão guiando o ritual
Fazendo coreografias e danças esquisitas
exigindo que o aluno faça igual
Das bocas dos guias sempre palavras incompreensíveis
Então eles se elevam em plataformas de diferentes níveis
Os graduandos ficam no espaço inferior
para entrar naquele lugar mais perto do altar
só quem tem o nome na lista
Tem que ser no mínimo especialista
um andar mais elevado e privilegiado é para o mestre
o topo do olimpo é pro doutor

O ritual prosegue com ardor
mais lá embaixo um graduando parece insubmisso
então um professor fica irritado
se sacode e solta um grito
balançando seu chocalho lhe aponta seu cajado
e lhe ameaça com feitiços

Se a magia não adianta
um escravo traz a capanga
dentro dela várias armas
não vi chicote, pistola a laser, nem espadas
também não tinha lanças, flechas ou cordas
suas armas de ataque e tortura
eram chamadas, trabalhos, provas, notas

Tinha ainda por escudo e armadura
a sua titularidade
(que lhe dava repeitabilidade)
além de enquanto professor a autoridade
que o transforma em legislador, juiz e carrasco
dentro da sala de aula
ele assim bem equipado
suas armas ostentamente segura
o aluno é obrigado a suportar
o professor que nele as usa
ou então largar o curso como fuga

A situação parece até ilusão de tão maluca
mas infelizmente é realística
Alguns estudantes procuram resistir
tentam contrapor o arsenal do professor
utilizando a arma da crítica
mas a esses quase ninguém quer ouvir
pois contraria o que é tomado por senhor
o que a titulação diz que tem razão
independente do que dele vir
muitos veneram o professor
visto sobremodo inteligente
como um ser superior
que não é gente como a gente

Alguns acreditam mesmo nisso
Outros só o defendem por um puro oportunismo

Fora da sala o ritual prosegue seu estrago
fico ali olhando aquela droga de espetáculo
os docentes de corpos pintados
e de adereços enfeitados
agitam a cerimônia
exibindo suas máscaras

Tem do tipo medonha
tem das tão ridículas, engraçadas
tem de toda qualidade
e para todos os gostos
Eles as usam para mascarar a realidade
e também cobrir seus rostos

Normalmente quanto mais graduado
maior a elaboração possui seu artefato

Olhando vi que ali nada falta
Por mim passou uma doutoranda
com ornado capacete de astronauta
Um especialista falou que era quilombola
e batia em um tambor
Do outro lado um doutor lhe atirava molas
dizendo que era um robô


Tinha um que reprovava
os alunos que eram mais críticos
nas universidades se falava
que entidades envocava
e baixavam nele espíritos
Saí de uma palestra de doutores dinossauros
Entrei em outra sala para olhar uma conferência
Tinha ali um doutor que queria ampliar os dicionários
Inventava palavras onde não era necessário
Cunhava conceitos de um modo arbitrário
Era em sua obra a tentativa de virar uma referência
Era sua forma, de criar uma nova moda
para reproduzir a decadência

No outro dia me esforcei para chegar no horário
assisti a fala de um doutor que queria convencer
que uma coisa ao mesmo tempo poderia ser
totalmente outra ela mesma e o seu contrário

Com esse congresso fiquei decepcionado
na época era do primeiro ano
de lá pra cá a coisa foi piorando
e eu ficando mais inconformado

As vezes saía da sala
pois depois de cada fala
eu só ficava mais zureta

No auditório havia gente aglomerando
Lá na frente um certo mestrando
dizendo que era o capeta
Naquela hora contrastando
Uma luz no céu da academia apareceu
e por entre as nuvens um pós-doutor desceu
Diante de todos defendeu ser ele o próprio Deus
O mestrando foi por ele questionado
e o coitado estremeceu
Diante daquele iluminado
até sua própria luz se escureceu
Mas ocorreu o inesperado
E o mestrando a ele respondeu
no começo com cuidado
mas cada vez contrariado
no debate o respeito à divindade ele perdeu
Seus colegas essa postura reprovaram
Ao lado do Senhor eles ficaram
e no final o Pós-Doutor foi aplaudido pois venceu
Declarou superadas as idéias do Demônio
Então eu que sou ateu
Pensei estar em um manicômio

Podre academia!
Que assim já foi nascida
Pelos abutres foi mantida
De mais podridões foi expandida
Porque a mais fétida carniça
É a que atiça ao urubu

Naquele embate complicado
Entre o pós-doudor Jeová e o mestrando Belzebu
Os professores puxa-sacos
Apoiaram o que era em titulação mais elevado
Esse debate foi comentado durante muitos anos
Os dois se desentenderam sobre o sexo dos anjos
Mas um tempo depois o Belzebu fez uma autocrítica
E hoje ele e Jeová são do mesmo grupo de pesquisa

Sempre temi ficar doente
em meio a esse ambiente epidêmico
um dia fui falar com um certo acadêmico
algum conforto ou apoio procurando
comentei:

- Isso aqui tá tudo errado né!

Então constatei com espanto
que pelo seu corpo haviam pelos brancos
Ele me olhou e falou:

-Bééééééé !

Com aquilo fiquei bastente transtornado
No corredor ao lado passou um professor
Meu colega se abaixou
e começou a andar de quatro
Aquele professor ia andando
no trajeto seu rastro ia deixando
sempre cagando e caminhando
e agora aquele colega atrás acompanhando
em seus dejetos ia pastando

Descobri que ele era um orientando
e o da frente era um mestre
O mestre merda ia falando
nas quais o orientando rolava
e das quais se alimentava
ao mestre fazia preces
o agradecendo por suas sagradas fezes
dizia que de seus sonhos o que mais gosta
era um dia conseguir produzir uma bosta
tão sofisticada como os mestres
Fiquei a perguntar:
-O que é este lugar,
se não degradação ?

É a perpetuação da não solução
dos problemas da humanidade

A preocupação da academia
não é com a realidade
mas com a fantasia
Perigosa é a verdade
Para aquele que domina

Por isso a universidade
Na verdade passa em cima
oculta, fragmenta, camufla, falsifica
essa é a sua sina
é braço do mesmo Estado
que a dignidade do povo assassina

Nessa sociedade cada ocupação é mais odiável
E eu trabalho nesse espaço que detesto
Mesmo sendo tão ruim
ainda é pra mim mais suportável
Vou continuar só para deixar o meu protesto

(Luiz Aurélio)

Ser anarquista

Brasil - Greve Geral de 1917
Ser anarquista é ser forte,
É refletir a verdade;
É pensar na triste sorte
Desta pobre humanidade!

               É ser contra o banditismo
               Que se vê por todo mundo
               É querer o Comunismo
               Por ser humano e fecundo.

O anarquista ultrapujante
Quando fala às multidões,
Parece um astro gigante,
Da luz das constelações!

               Incita os povos escravos
               A lutar contra os senhores
               Criando exércitos de bravos
               Combatentes,vingadores.

Demonstra que a Humanidade
Tem de gozar sobre a Terra
Da maior felicidade
Que o raciocínio encerra!

                Se o burguês - monstro odioso -
                O condena à gilhotina,
                Por seu sangue generoso
                Se propaga a sã doutrina.

Ser anarquista, é ser grande
Não temendo o sacrifício,
É querer que ninguém mande
Pela força ou por suplício.

Aos crentes


Mortais, crede com fé, com viso de verdade.
Verdade de pureza heróica e irrefutável,
Que a crença que domina a tola humanidade
É uma crença imbecil corrupta e detestável.

                      Da solidão astral mos chega a luz vigente
                      A luz que nossa treva afugenta e ilumina,
                      E assim o amotinas vereis incontinente
                      Na crença virtual a que julgais divina.

Ao histrião e ao pulha e mesmo ao que domine
Símbolos dessa crença infame, e desse mal,
Daremos por lições a ler Kropotkine
E não devemos crer que nossa alma é imortal!

                      Gozemos com fervor o mundo, esse conjunto
                      De crenças, de ilusões, de prantos, de maldades;
                      Exploremos sem pejo a flor do tal assunto
                      Ao forte despertar arcano das verdades...

Funâmbulos, mastias, assim desta maneira
Irão provavelmente atrás sem freguesia:
Acabam-se os missais, a grande pagodeira.
E o baile religioso ecoando a vilania.

                      Hipócritas de "deus", palhaços infamantes,
                      Impudentes cristãos e falsos clericais,
                      Não mais conseguirão com capas farsantes
                      Vestir a humanidade em almas imortais!

Brademos com fervor, mas com fervor imenso,
Fervor que ao deus - natura alegrará por certo:
Como um sábio qualquer a revirar com senso
As folhas colossais de um grande livro aberto.


Adalberto Vianna

Contra o aumento da passagem


No transporte mais um aumento...
Eu me revolto, eu não aguento
O Povo tirar do seu sustento
Ter que tirar da sua família
Só pra enriquecer essa quadrilha
Quadrilha de engravatados
De homens do estado
De mega-empresários
E outros parasitas milionários

O transporte coletivo
É pro povo necessidade
Mais pra outros é oportunidade
De um enriquecimento extorsivo
Só mais um negócio lucrativo

E a má qualidade do serviço...
É problema do usuário
Que justiça há nisso?
A revolta é um ato necessário!

Chega de ser feito de otário
Hora do rebuliço
Consciência e ação
Pois só a nossa união
Pode esse mal enfrentar...

O pau vai quebrar !

Para o aumento diga não
Incite a população
E saiam em multidão
Vamos às ruas protestar

(Luiz Aurélio)