A sua casa onde imperava a fome
Abrigo dava a um querubim tão lindo,
Quase a finar-se n’um sofrer sem nome.
Na enxerga, a um canto, a companheira, rindo,
N’um riso louco o existir consome
Sente que a vida, se lhe vai fugindo
Sem forças ter pra que essa fuga dome...
Há dias já que essa família exausta
Que força teve pra um labor atroz
Respira a Morte por não ter um pão,
Enquanto à porta a humanidade fausta
Passa, fingindo não lhe ouvir a voz
Que em breve cansa de clamar em vão.
A.S.R. Torres
Publicado em "Emancipação", revista quinzenal, Rio de janeiro, em 01/05/1905.
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