A multidão solitária

O mais triste paradoxo da vida moderna.

Vivo sozinho, encarcerado em meu castelo residencial.
As paredes são muito grossas, não consigo perfurá-las.
Tenho fobia do mundo, da vida, corro de possíveis balas.
Vivo na integralidade o supérfluo, o tédio existencial.

                              Corro de mim, mas encontro-me sozinho novamente,
                              Procuro por todos os lados, mas não vejo nada fundamental,
                              Somente um monte de pessoas em caráter acidental,
                              Nada mais que espectros com os quais vivo cotidianamente.

Nas ruas da cidade, as paredes são muito mais espessas!!
Trombo nos comércios com uma multidão de vermes,
Que deslizam lentamente, tais quais silenciosos paquidermes,
Que andam sozinhos, sisudos pelas estradas extensas.

                              No seio das cidades, onde todos se amontoam,
                              Vê-se uma multidão de espectros perdulários,
                              Sozinhos, isolados, angustiados e solitários,
                              Deslizam e pelo vulto silencioso escoam.

Este é o maior paradoxo da sociedade moderna,
No qual, juntos, os milhões são meros refratários,
Uma onda de mulheres, homens, juntos-solitários,
Espectros, zumbis, andantes da vida hodierna.


Lucas Maia

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