Cristo - Proletário

É a ti que me dirijo, humilde proletário,
Mártir das opressões sociais, que és hoje em dia
O piedoso judeu que o clero e a burguesia
Arrastam, sob a cruz da miséria, ao calvário:

Ergue a fronte e abandona esse ar de covardia,
A servil submissão desse cristo lendário,
Torna-te um revoltado, um ladrão, um incendiário,
Mas lança fora do ombro a cruz que te angustia!

Ouve a voz da razão, contempla a luz da Ciência,
Olha a fartura que há, o luxo desbragado,
Vê o opróbrio em que estás, nessa negra indigência!

Enfrenta a corja vil que a morte te conduz:
Mais vale ser no ardor da luta aniquilado
Do que morrer, inerte e triste, numa cruz!


Raimundo Reis
20/04/1935
Publicado em: -A lanterna, jornal anticlerical e libertário- São Paulo, nº 393.

Desenho de Doug Fraser

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