Resistir

Acordo para um novo dia
Como se houvesse possibilidade
Mesmo que mínima
De sobrevivência digna.
Curvo a espinha
Subjugando-me ao trabalho,
O que resta de escravo em mim
Reluta e tenta resistir,
O que resta em mim de verme
Cede ao impulso burocrático
E enfim sirvo de tapete,
Eis-me aqui patrão!
Se um dia fui gente
Acreditem não vivi,
Mas como bicho
Sempre me encontrei disposto
A servir a imbecis
Desses que se fizeram grandes
Ante a ingenuidade e ignorância.
Desconheço o poder
E por mais que digam que atrai
Eu o renego
E vou tentando resistir

Danton Medrado

É preciso navegar para a vida conquistar


Sentado nessa pedra olho o mar...
Por toda parte a me cercar
E a maré cada vez a subir
Estarei condenado a sucumbir?

Essa velha terra só está a afundar
O que haverá além-mar?
Um novo mundo podemos construir
Um vida plena conquistar
Quero para isso contribuir
Quero para isso poder lutar

Dizem que a Anarquia é um delírio
Porque o oceano é infinito
Ou ainda, que no fim dele há um abismo
Mas eu não acredito nisso
Tendo a história por piso
Vejo que navegar é preciso
Me junto àqueles malditos
Amaldiçoados por pensarem além
Perseguidos ou tratados com desdém
Difícil é ser um deles também

Olho para o mar,
não posso sozinho nadar
Pois assim só irei me afogar
Sem muito longe conseguir chegar

É necessário um grande mutirão
Saio então a chamar a população
Vamos organizar uma grande expedição
É preciso construir e tomar navios
Para atravessar os mares bravios
Carpinteiros, marinheiros,
cada um de nosso meio
Vamos nos organizar
Para o mais rápido poder zarpar

Com velas alçadas o vento nos impelirá
O céu estrelado nos guiará.
Não se assustem companheiros,
pois que esse céu inteiro
Só reflete o que tem em nosso peito
O vento na verdade é de liberdade o desejo
As estrelas e os ventos, encontramos em nós mesmos.

Luiz Aurélio

Pequeno Proletário


Tenho pena de ti, pequeno proletário,
Que, de manhã à noite, aí no opfício,
Desperdiças, assim, por mísero salário.
Os anos infantis, em troca de um ofício.

                          Tenho pena de ti, vítima do corsário
                          Da sociedade vil, por cujo sacrifício
                          Te arrebanhou, sem dó, a voz do argentário,
                          Julgando ainda ser isso um grande benefício.

Hás de, amanhã, bem sei, oh pequenino estóico,
Rebelde invertebrado, hás de, por certo, ser,
Contra essa malvadez, soldado bom e heróico.

                          Alguém, então, zombando, esse teu proceder,
                          Dirá que não és mais que um louco, um paranóico,
                          Clamando pela luz do Rubro amanhecer !...


João Medeiros Coimbra