Esqueçam-se de que um dia fui vivo


Hoje eu rasguei a minha carta de alforria,
Cavei um buraco para atirar meu corpo
Clamei pelos bafejos da morte, amaldiçoei a vida
Reuni corvos, urubus e outras aves de rapina
Em torno de minha alma que também sofria.

Relapso hoje, ontem um bakuninista
Vítima algemado a um país católico petista
De bandidos a senadores que não sanam dores
E cidadãos miseráveis; deputados inimputáveis,
Na puta que pariu todos os seus dissabores
Estado que definha sob nossas vistas.

Faço vistas grossas, desapercebido
Passo e sigo cabisbaixo como um casuísta,
Suborno o que em minha vida tinha de são
Renego a bandeira negra que hasteei em vão
Cuspo no evangelho que bêbado escrevi
O que restou de resto de mim foi esquecido.

Tropeço em minhas dúvidas, esquivo
A danação invoco, os maus agouros
A revolta hostil dos berberes mouros
E a perseguição imposta pelos cristãos,
Como Pilatos lavo minhas mãos,
Esqueçam-se de que um dia eu fui vivo.

Danton Medrado

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